Maria despojada: quando o ecumenismo mata a Virgem Maria

Fonte: Casa Autônoma do Brasil

“Não se pode desassociar a Virgem do Redentor sem mutilar a obra de Deus.”

Onde está o amor pela verdade, onde está a fidelidade ao Calvário? É com uma profunda aflição, com uma santa indignação, que lemos o documento Mater Populi Fidelis do Dicastério para a doutrina da Fé (DDF). Esse texto, que se pretende um esclarecimento, ataca, na realidade, a Santíssima Virgem, a nossa Mãe, ao lhe recusar certos títulos que lhe foram atribuídos pela Fé, por toda a Tradição da Igreja, e sancionados pelo ensinamento constante de vários papas. Sob o pretexto de “fidelidade” e de “ecumenismo”, ele opera para a diminuição da Mãe de Deus.

Sofismas insustentáveis

O cardeal prefeito do DDF justifica o afastamento dos títulos gloriosos de Corredentora e de Medianeira universal das graças por três argumentos que se deve severamente denunciar.

1. O atentado à única mediação de Cristo:

O principal argumento é que o título de Corredentora poderia parecer atentar ao dogma fundamental de que “há um só único mediador entre Deus e os homens: um homem, Jesus Cristo” (I Tm 2, 5). Seu temor é que o termo Corredentora seja interpretado como uma igualdade de poder ou de dignidade entre Maria e Cristo. Contudo, isso é ignorar profundamente a doutrina católica! Sem hesitar, a fé afirma que somente Cristo salva, contudo, ela também ensina que Deus quis associar uma criatura ao sacrifício redentor de Cristo. Maria não coopera por poder pessoal e independentemente de Cristo. Mas por amor e oferta. A teologia sempre esclareceu que seu mérito é de conveniência (de congruo) e não de justiça (de condigno), como o do Salvador. Ela obtém “de conveniência o que Jesus obtém de justiça” (São Pio X), com uma eficácia subordinada, porém, universal. Longe de rivalizar, Maria é a associada cuja ação é condição sine qua non desse resgate.

2 – A inoportunidade e a complexidade dogmática:

O DDF afirma a inoportunidade dos títulos, pois seriam muito difíceis de compreender pelo Povo de Deus: “Quando uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie de um significado correto, não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e torna-se inconveniente.”

Esse argumento, novo na história da teologia, também é uma confissão da indolência pastoral! Se se devesse excluir do ensinamento da Igreja as expressões susceptíveis de interpretações falsas, então a pregação se reduziria a pouquíssimas coisas. A Sagrada Escritura é revelada por Deus. Todavia, ela contém muitas passagens difíceis de entender. Mesmo São Pedro diz que os textos de São Paulo contém passagens obscuras: “Também nosso irmão caríssimo Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, como aliás faz em todas as suas cartas, em que fala disto, nas quais há alguns pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes adulteram o sentido para sua própria perdição.” (2 Pd 3, 15-16)

Com esse argumento do DDF seria preciso, então, censurar a Bíblia! Ao contrário, a Igreja nunca teve medo e sempre ensinou a verdade em toda sua complexidade radiante, sem diminuí-la por simplificação deveras humana.

Ela tem as palavras da Vida eterna, aquelas do Verbo de Deus. E não se preocupa com palavras da prudência humana, bem humana.

3 – O constrangimento ecumênico:

O “esforço ecumênico particular” é o motor dessa amputação mariana. É claramente exposto que a “rejeição dos títulos da Santa Virgem… encontra sua origem no ecumenismo.” A devoção mariana, para ser compreendida e ensinada, deve olhar para os erros, as heresias e as impiedades dos não católicos? A ideia de que a verdade deva ser minimizada para agradar aos outros é uma ruptura trágica com a tradição. É também uma injúria mordaz lançada na face dos protestantes que julgam incapazes de receber a doutrina católica em toda a sua plenitude. Esse texto quer nos fazer substituir gloriosos títulos por apelações mais tímidas, como “Mãe do Povo fiel”, que afastam as precisões recusadas pelos não-católicos, e convém até aos muçulmanos. Sacrifica-se as glórias de Maria sobre o altar de um falso ecumenismo!

No cerne do problema: a Redenção mal compreendida

A verdadeira crítica é de ordem doutrinal: ao atacar Maria Corredentora, revelam uma profunda incompreensão do mistério da Redenção em si.

Menosprezar Maria é menosprezar Cristo

A plena compreensão do mistério de Cristo conduz à plena compreensão do lugar de Maria na obra da salvação. A verdadeira piedade mariana jorra da contemplação da Encarnação e do Calvário. Quando o DDF coloca o valor meritório da compaixão de Nossa Senhora no condicional e escamoteia sua extensão universal, ele não faz senão uma caricatura dos ensinamentos tradicionais. O mistério de Maria é inseparável daquele de seu Filho: é a Encarnação que estabelece o Mediador, e a Paixão que concretiza sua mediação, com a participação de Maria, por sua compaixão. Não se pode dissociar a Virgem do Redentor sem mutilar a obra de Deus.

O desconhecimento do Sacrifício da Missa

Assim como essas correntes modernistas penam para compreender e ensinar que a Santa Missa é um verdadeiro sacrifício – a renovação não sangrenta do Sacrifício de Cristo sobre a Cruz -, da mesma forma eles não podem entender a parte que Maria ocupa nele. Cristo é Sacerdote e Vítima; Maria, enquanto Corredentora, se une a Ele.

O Coração da Mãe se oferece com o Coração do Filho. Se não se vê mais a imolação do Filho de Deus, como se pode compreender a imolação do direito da Mãe sobre seu Filho para a salvação da humanidade, tal como ensinou Bento XV?

Um pseudo-magistério parcial e truncado

O artigo do DDF se fundamenta em uma quantidade de referências do magistério pós-conciliar. Ora, desde vários séculos a importância da Corredenção foi estabelecida solidamente no pensamento teológico. Constata-se e deplora-se a ausência, ou quase ausência, dos grandes nomes dos teólogos marianos: São Luís Maria Grignon de Montfort e Santo Afonso de Ligório sequer são mencionados. No máximo se faz menção a São Bernardo. Por aí, vê-se que não há uma exposição da Tradição da Igreja, mas uma leitura seletiva que busca justificar uma (exposição), a priori, minimalista e ecumênica.

A contradição de um falso feminismo

Enfim, é necessário denunciar a fragrante contradição que reside no sinal dos tempos. Aqueles mesmos que celebram a igualdade entre homens e mulheres, que colocam as mulheres na liderança de dicastérios, retiram da Virgem Maria, a maior de todas as mulheres, a dignidade única que Deus lhe conferiu! A Redenção foi obra de todo homem para levantar todo o homem. A Igreja, ao retirar de Maria seus títulos de Corredentora e de Medianeira, priva a mulher de um de seus maiores títulos de glória na história da salvação.

Nossa profissão de Maria Corredentora e Medianeira não é uma simples tese nem objeto de debate. Mas um ato de fé e de amor, um beijo de reconhecimento dado sobre a mão da Mãe que tudo sofreu por nós. Comprometamo-nos a valorizar, a proclamar e a defender nossa Mãe do Céu, a única que nos fará conhecer plenamente Nosso Senhor Jesus Cristo.