São Francisco de Sales e o purgatório – Folha Dominical 350 – 15 a 22 de novembro de 2020
São Francisco de Sales e o purgatório
Continuemos a doutrina consoladora do grande Doutor da Igreja sobre as alegrias do purgatório.
Não quer ele que se insista apenas no tormento daquele lugar de expiação, mas que se procure dar às almas uma idéia também consoladora do purgatório.
Do que lemos nas obras do Santo podemos coligir dez pontos principais:
- — As almas do purgatório estão numa contínua união com Deus e perfeitamente submissas à vontade de Deus. Não podem deixar esta união divina e nunca podem contradizer a divina vontade, como nós neste mundo.
- — Elas se purificam com muito amor e com toda boa vontade, porque sabem que é isto é da vontade de Deus. Sofrer para fazer a vontade de Deus é uma alegria para elas.
- — Elas querem ficar na maneira que Deus quer e quanto tempo Ele quiser.
- — São impecáveis e não podem experimentar nem o mais leve movimento de impaciência nem cometer uma imperfeição sequer.
- — Amam a Deus mais do que a si próprias, e mais do que todas as coisas, e com um amor muito puro e desinteressado.
- — São consoladas pelos Anjos.
- — Estão seguras da sua salvação e com uma segurança que não pode ser confundida.
- — As amarguras que experimentam são muito grandes, mas numa paz profunda e perfeita.
- — Se pelo que padecem estão como numa espécie de inferno, quando a dor, é um paraíso de doçura quanto a caridade mais forte do que a morte.
- — Feliz estado, mais desejável que temível, pois estas chamas do purgatório são chamas do Amor!”
Quem pode entender e penetrar este mistério de dor e de alegria, que é o purgatório? Os Santos nos poderiam dar uma idéia do que sofrem e do que gozam as almas do purgatório, quando Deus os faz experimentar aqui neste mundo tanto martírio nas provações daquelas noites de que nos fala São João da Cruz, nas quais o Senhor prova, aniquila os seus eleitos na terra, e ao mesmo tempo os enche de uma paz Inalterável e de consolações inefáveis em meio de trevas e de angústias. Mistério profundo, só os que experimentaram esto doloroso e feliz estado de alma neste mundo podem dizer algo do que se passa no purgatório! Que alegria não experimenta o pobre náufrago quando depois de se debater entre as ondas se vê de repente salvo e livre de todo perigo! É a felicidade, a alegria das santas almas quando, após esta vida e depois de haverem passado o tremendo Juízo, vêem que estão salvas da condenação eterna, embora tenham de padecer muito naquelas chamas, naquele martírio, por mais prolongado que seja. Estão salvas! Ó! como cantam elas um hino de ação de graças à infinita misericórdia!
“Tenhamos compaixão das pobres almas” – Mons. Ascânio Brandão