A importância do ensino da Doutrina Cristã

O mal moderno da apostasia das nações não é algo recente, mas lança suas raízes muito tempo atrás. Poderíamos apontar como sua causa principal, ao menos externamente, a conjuração contra Deus, a Igreja e a vida cristã, que, iniciada nas ideias do chamado Renascimento, prosseguiu depois com a Reforma protestante e culminou na Revolução Francesa. Desde então, a causa da religião apenas retrocedeu e se viu mergulhada em um abismo cada vez maior.
No entanto...
1º A ignorância da religião, causa da moderna apostasia das almas
O Papa São Pio X, em sua encíclica Acerbo nimis, de 15 de abril de 1905, ao buscar investigar as causas e razões internas do mal que afligia a religião cristã, apontava de forma decidida uma, e apenas uma: a ignorância das coisas religiosas por parte dos fiéis cristãos. Assim dizia:
“Sem excluir, Veneráveis Irmãos, a opinião e o juízo de outros, somos do número dos que pensam que a atual depressão e fraqueza das almas, das quais resultam os maiores males, provêm, principalmente, da ignorância das coisas divinas. Esta opinião concorda plenamente com o que o próprio Deus declarou por meio de seu profeta Oséias: “Não há na terra o conhecimento de Deus. A maldição, a mentira, o homicídio, o roubo e o adultério tudo inundam, e o derramamento de sangue leva ao derramamento de sangue. Por isso, cairão o lamento e a miséria sobre a terra e sobre todos os que nela habitam” (Os. 4, 1 ss.)”
Esse mal, assinala o Santo Pontífice, está, por um lado, amplamente difundido entre o povo cristão e, por outro, não é exclusivo das classes humildes, mas também das consideradas cultas e instruídas.
“Quão comuns e justificados são, infelizmente, esses lamentos de que existe hoje um grande número de pessoas, no povo cristão, que vivem em total ignorância das coisas que se deve conhecer para alcançar a salvação eterna! E ao dizer “povo cristão”, não nos referimos somente à plebe, isto é, àqueles homens das classes mais humildes, a quem frequentemente se desculpam pelo fato de estarem submetidos a padrões exigentes, e que mal podem cuidar de si mesmos e de seu descanso; mas falamos também e, principalmente, daqueles a quem não falta inteligência nem cultura, e que até estão ornados de grande erudição profana, mas que, no que se refere à religião, vivem de forma temerária e imprudente.”
São Pio X, a seguir, enumera detalhadamente as verdades comumente ignoradas pelos fiéis, incluindo na lista até mesmo aquelas verdades cujo desconhecimento dificilmente atribuiríamos a alguém que professa o nome de católico.
“Seria difícil expressar quão densas são, com frequência, as trevas que os envolvem — e o que é mais triste — a tranquilidade com que permanecem nelas! Não se preocupam em nada com Deus, soberano autor e moderador de todas as coisas, nem com a sabedoria da fé cristã; e assim, nada sabem sobre a Encarnação do Verbo de Deus, nem sobre a redenção realizada por Ele; nada sabem sobre a graça, o principal meio para a salvação eterna; nada sobre o augusto sacrifício nem sobre os Sacramentos, pelos quais conseguimos e conservamos a graça. Quanto ao pecado, não conhecem nem sua malícia nem sua feiura, de modo que não se empenham minimamente em evitá-lo ou em buscar o seu perdão; e assim chegam aos últimos momentos da vida, quando o sacerdote, para não perder a esperança de sua salvação, lhes ensina resumidamente a religião, em vez de aproveitar aquele tempo, como seria adequado, para estimulá-los a atos de caridade. E isso — a menos que, infelizmente, não ocorra com demasiada frequência — quando o moribundo é tão culpavelmente ignorante que considera inútil a ajuda do sacerdote e acredita que pode cruzar tranquilamente os umbrais da eternidade sem ter satisfeito a Deus por seus pecados. Por isso, nosso predecessor Bento XIV escreveu com razão: “Afirmamos que uma grande parte dos que se condenam chega a essa desgraça eterna por ignorância dos mistérios da fé que é necessário conhecer e crer para alcançar a felicidade eterna.””
O resultado dessa ignorância é, inevitavelmente, a invasão do pecado e a total corrupção dos costumes cristãos.
“Sendo assim, Veneráveis Irmãos, que surpresa pode haver no fato de que a corrupção dos costumes e sua depravação sejam tão grandes e cresçam diariamente, não só entre as nações bárbaras, mas também entre os próprios povos que levam o nome de cristãos? Com razão dizia o apóstolo São Paulo, escrevendo aos efésios: “A fornicação e toda impureza e a avareza nem sequer se mencione entre vós, como convém aos santos; nem tampouco palavras torpes ou piadas indecentes” (Ef 5, 3 ss.). Como fundamento dessa modéstia e santidade, com que se moderam as paixões, ele colocou o conhecimento das coisas divinas: “Vede, pois, irmãos, com quanta cautela deveis andar; não como ignorantes, mas como sábios... Não sejais, portanto, imprudentes, mas procurai compreender qual é a vontade de Deus” (Ef 5, 15 ss.).”
2º Formação deficiente na doutrina cristã.
O Santo Papa continua, então, investigando a que se deve essa ignorância tão generalizada entre os fiéis, e encontra a causa justamente na falta de uma boa formação na doutrina cristã.
“Se é vão esperar colheita em terra não semeada, como esperar gerações adornadas de boas obras, se não foram oportunamente instruídas na doutrina cristã? Concluímos com razão que, se a fé definha em nossos dias a ponto de parecer quase morta em grande parte das pessoas, é porque se tem cumprido de forma negligente — ou omitido totalmente — o dever de ensinar as verdades contidas no Catecismo. Seria inútil dizer, como desculpa, que a fé é dada gratuitamente e conferida a cada um no Batismo; pois, embora todos os batizados em Jesus Cristo tenham sido enriquecidos com o hábito da fé, essa semente divina não chega a crescer… e a lançar grandes ramos (Mc 4,32), se for deixada por conta própria, como se tivesse força natural. O homem, desde que nasce, possui a faculdade de entender; mas essa faculdade precisa da palavra materna para se transformar em ato, como se costuma dizer. Do mesmo modo, o homem cristão, ao renascer pela água e pelo Espírito Santo, traz a fé em forma de germe; mas necessita do ensino da Igreja para que essa fé possa ser nutrida, crescer e dar frutos. Por isso escreveu o Apóstolo: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir depende da pregação da palavra de Cristo.” E para mostrar a necessidade do ensino acrescentou: “Como ouvirão falar, se não houver quem pregue?” (Rm 10,14 e 17)”.
Isso não quer dizer que a formação deficiente nas verdades da doutrina cristã seja a única razão, e toda a culpa, da apostasia moderna das almas; mas também é verdade que, se estivessem melhor instruídas, teriam encontrado nessa instrução uma importante proteção contra a ignorância da própria fé e, por consequência, contra a perversão dos costumes.
“Estamos longe de afirmar que a malícia da alma e a corrupção dos costumes não possam coexistir com o conhecimento da religião. Oxalá os fatos mostrassem o contrário. Mas entendemos que, quando o espírito está envolvido nas densas trevas da ignorância, não pode haver retidão de vontade nem bons costumes, pois, se até com os olhos abertos o homem pode se desviar do bom caminho, aquele que sofre de cegueira está em risco certo de se perder. Acrescente-se que, naqueles em quem ainda não se apagou completamente a chama da fé, permanece a esperança de que se corrijam e curem a corrupção dos costumes; mas quando a ignorância se une à depravação, o remédio torna-se quase impossível, restando apenas o caminho aberto para a ruína.”
3º Remédio contra tais males: a instrução firme e sólida na fé.
Portanto, o remédio específico para os males presentes está na instrução cristã das almas. E esse ensino da lei divina é esperado pelos fiéis dos sacerdotes — e mais especialmente, como ressalta o Papa São Pio X — daqueles que têm a seu encargo, e quase por contrato, o cuidado das almas.
“Esse gravíssimo dever recai sobre os pastores de almas, que estão efetivamente obrigados, por mandado do próprio Cristo, a conhecer e apascentar as ovelhas que lhes foram confiadas. Apascentar é, antes de tudo, doutrinar: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentarão com sabedoria e doutrina” (Jer 3,15). Assim falava Jeremias, inspirado por Deus. E, por isso, dizia também o apóstolo São Paulo: “Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar” (1 Cor 1,17), advertindo assim que o principal ministério de todos os que, de alguma forma, exercem o governo da Igreja consiste em instruir os fiéis nas coisas sagradas…”
“Por isso, o sacrossanto Concílio de Trento, ao tratar dos pastores de almas, declara que a primeira e maior de suas obrigações é ensinar ao povo cristão. Determina, portanto, que pelo menos aos domingos e nas festas solenes se ofereça ao povo a instrução religiosa... Acrescenta ainda o Concílio que os párocos estão obrigados, ao menos nesses dias, a ensinar às crianças, pessoalmente ou por meio de outros, as verdades da fé.”
E os nossos Folhetos de Fé?...
Pois bem, da intenção de garantir essa instrução que todo sacerdote deve a seus fiéis, nasceu a ideia de apresentar, a cada semana, em forma de um simples folheto (em uma versão virtual), uma verdade da nossa santa fé, da maneira mais variada possível, e a partir dos diferentes aspectos da doutrina cristã.
Folhetos de Fé pretende, assim, ser uma lufada de ar fresco para a fé de cada um dos fiéis; uma migalha de pão que se reparte para que não falte o alimento aos pequeninos; um meio fácil e acessível de ilustrar sua fé como convém à sua condição de cristãos.
Folhetos de Fé pretende também oferecer aos fiéis zelosos um meio de difundir essa mesma fé, por meio de pequenos folhetos fáceis de reproduzir e distribuir, para que o conhecimento da verdadeira doutrina alcance outras almas.
Dignem-se Deus e sua Santíssima Mãe abençoar estes Folhetos de Fé, para que consigam alcançar o nobre objetivo a que se propõem.
Quando o espírito está envolto nas densas trevas da ignorância, não pode haver retidão de vontade nem bons costumes.
Grande parte dos que se condenam chegam a essa desgraça eterna por causa da ignorância dos mistérios da fé que devem conhecer e crer para alcançar a felicidade eterna.
Fonte: Hojitas de Fé nº 001, Seminário Nossa Senhora Corrdendentora, FSSPX, La Reja, Argentina