50º Aniversário da FSSPX – Folha Dominical 348 – 1 a 8 de novembro de 2020
“Estas linhas vão destinadas principalmente aos sacerdotes membros da Fraternidade, mas também aos seminaristas, aos irmãos, às religiosas professas e noviças da Fraternidade, às oblatas, e a todos aqueles e aquelas que colaboram com nosso apostolado e participam da vida de nossa família espiritual.
Ao cumprir a Fraternidade seu décimo aniversário, queria tratar de definir e escrever o que chamamos o espírito da Fraternidade. Escutamos às vezes, aqui e ali, críticas mais ou menos vivas por parte de nossos amigos: “Os membros da Fraternidade se crêem privilegiados, crêem ser a Igreja, e assim faltam de consideração para com os demais; pretendem possuir tudo, controlar tudo, etc.”. É possível que a juventude e a inexperiência no apostolado tenham provocado alguma vez torpeza e mal-entendidos. É certo que devemos fazer todo o possível para praticar a caridade com todos aqueles que se esforçam, como nós, em combater o erro e manter a fé. Mas, deixando isso de lado, não é inútil situar bem a Fraternidade no contexto atual da Igreja, para estar eventualmente preparados a viver em um contexto novo, sem ter que modificar em nada nossa entidade de Igreja e na Igreja.
Reconhecida pela Igreja como Sociedade de vida comum sem votos e como Fraternidade Sacerdotal, nossa Fraternidade está enxertada no tronco da Igreja e toma sua seiva de santificação na mais autêntica tradição da Igreja e nas fontes vivas e puras de sua santidade, de modo parecido a tantas sociedades reconhecidas pela Igreja ao longo dos séculos, e que fizeram crescer e florescer novos ramos, e produzido frutos de santidade que são a honra da Igreja militante e triunfante.
A luta selvagem e injusta levada a cabo contra a Fraternidade por aqueles que se esforçam em corromper as fontes de santificação da Igreja, não faz senão confirmar sua autenticidade. São os sucessores de Caim que querem novamente matar Abel, cujas orações são agradáveis a Deus.
Em tempos normais, a fundação e o desenvolvimento de nossa Fraternidade teriam passado despercebidos em meio de inúmeras sociedades florescentes e fecundas com frutos maravilhosos. Mas hoje, a esterilidade e os frutos amargos da maioria desses ramos contrastam com o vigor dos ramos tradicionalistas. Por isso, a situação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X na Igreja lhe outorga um lugar particular, bem compreendido pelos fiéis que em seu conjunto manifestam claramente seu desejo de ser evangelizados e santificados pela Fraternidade ou por sacerdotes que estão de acordo com ela. Por outro lado, é um estímulo e um consolo para nós ver o número cada vez maior de sacerdotes que, sem serem membros da Fraternidade, manifestam o desejo de se aproximarem à Sociedade, para encontrar nela alívio, assistência espiritual, e a segurança de não ficarem isolados.
Este lugar da Fraternidade na Igreja tem uma importância considerável, pois faz legítima sua continuidade e a manutenção de seu apostolado na linha inalterável de sua fundação aprovada pela Igreja. Será, pois, muito proveitoso definir nossa Fraternidade, já que ela representa, pela graça de Deus, uma esperança para a Igreja e para as almas (…)”.
† Marcel Lefebvre
7 de fevereiro de 1981